"Fé inabalável só é a que pode encarar
de frente a razão, em todas as épocas da humanidade"
Allan Kardec.
A Doutrina Espírita apresenta uma nova
maneira de ver a Fé. Este é um ponto que julgamos importante, pois enquanto as
religiões procuram manipular as consciências, incutindo idéias de medo, impondo
comportamentos, reduzindo consideravelmente o livre arbítrio, o Espiritismo
deixa o pensamento fluir livremente, o mais natural possível para que o
indivíduo possa demonstrar toda sua identidade e autenticidade.
A Fé raciocinada deixa de possuir
conotação de algo obtido por uma graça, por um mistério que não pode ser
explicado. Ela, portanto, difere de tudo o que caracteriza a Fé religiosa,
porque baseia-se na busca do entendimento e do discernimento. A Fé religiosa
firma-se nos dogmas que definem as religiões. A Fé Espírita usa a razão e, por
isto, pode criticar e examinar o objeto da Fé.
Há uma lucidez maior dos conhecimentos
adquiridos e uma melhor captação de conhecimentos novos. A Fé Espírita é efeito
e não causa. O indivíduo que a possui já experienciou no passado no passado
vivências, aprendizados, etc. que hoje lhe transmitem toda uma certeza e
confiança. Há uma visão global, holística, das coisas; ou, porque não dizer, uma
visão "guestaltica" do todo.
Para que se obtenha esta compreensão
geral, aumentando-a paulatinamente, torna-se necessário que a nossa inteligência
esteja ativa, para podermos exercitá-la através da vontade. Com a inteligência
teremos facilidade de adquirir conhecimentos novos e tornar presente ou
consciente os já adquiridos. Estes, serão sempre assoalho para o apoio de novas
informações; assim, o poder de análise e de síntese vai crescendo de forma que a
cada passo o indivíduo tenha nova compreensão, novos "insights", ou lampejos
cada vez mais claros.
Assim é a Fé Espírita, com
características próprias e especiais, que a diferencia de qualquer outra Fé. A
Fé Espírita não é reducionista, não bloqueia a vontade nem a expressão do ser
humano; ao contrário, amplia a vontade e a capacidade de expressão. O indivíduo
fica livre para a escolha e com menos possibilidades de ser manobrado ou
manipulado.
Daí Allan Kardec dizer que a Fé
Espírita "não pode ser prescrita ou imposta, por aquele que a tem, ninguém a
poderá tirar e àquele que não a tem ninguém poderá dar". Diz o Codificador que
"a Fé é sinal evidente de progresso". O Espiritismo, como Doutrina
reencarnacionista e evolucionista, tem na sua Fé uma conseqüência desse
progresso que o indivíduo vai pouco a pouco conquistando, vivenciando. O
progresso vai facilitando melhores elaborações em estágios sempre
renovados.
Portanto, Fé não se consegue como que
"por um passe de mágica". Ela é a certeza, a segurança e a confiança já
conquistadas e que num dado momento o indivíduo experiência. A Fé está
relacionada a obras, assim, uns possuem mais Fé, outros menos. Para a realização
das obras - e das conquistas - é necessário estudo e trabalho que resultam em
experiência. O que se pode afirmar é que haverá sempre uma nova tarefa a ser
executada, a nos provar, a nos testar e, assim, vamos obtendo maior firmeza na
execução, ou seja, maior Fé.
Foi dito, "a fé é mãe da esperança e da
caridade", o que é facilmente compreensível, porque todo aquele que a possui,
conforme a Doutrina Espírita, apresenta um sintoma de que já conquistou estágios
importantes e, como tal, ela já está incorporada ao seu acervo tornando-se
natural a prática do amor e da caridade.
A importância do Espírita ter esse
entendimento da Fé, o levará a vivenciar melhor a atual existência, o aqui e
agora, e a pautar todos os seus atos dentro de uma moral e de uma ética elevada.
O Espiritismo facilita a reparação dos erros numa experimentação consciente e
nisto está o fortalecimento da Fé. Todo este entendimento nos conduzirá à
certeza, à confiança e à esperança, proporcionando-nos encarar de frente a razão
em todas as épocas da humanidade.
(*)o autor é Psicólogo, e Presidente da
Sociedade Espírita Casa da Prece
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