O Eclipse da Crucificação de Cristo
FONTE: O Globo – 1996
– Ronaldo Mourão
Se bem que o
astrônomo inglês Roberdeau Buchanan, em The Mathematical Theory os Eclipses
(1904), tenha utilizado a sua experiência como calculador de eclipses do
Nautical Almanaque durante 23 anos, para afirmar que o escurecimento na
Crucificação de Cristo não foi causado por um eclipse total do Sol, a questão
tem sido periodicamente discutida no meio astronômico e religioso, como ocorreu
recentemente, em dezembro de 1973, na revista cientifica Nature. Para Buchanan a
hipótese do eclipse do Sol foi um argumento usado "por alguns ateus e outros que
negam o escurecimento miraculoso da crucificação". A afirmativa de Buchanan de
que um eclipse do sol não pode ter sido a causa do escurecimento está totalmente
correta. De fato, os meses judeus são lunares, e começam sempre com a lua nova.
Ora, a crucificação ocorreu em 14 de Nisã, ou seja 14 dias depois da lua nova,
quando já era Lua cheia. Por outro lado, sabemos que o sacrifício de Cristo se
deu durante o Passover, que pela tradição judaica, ocorre sempre na Lua cheia.
Assim, como os eclipses do sol só acontecem na Lua nova, o escurecimento da
crucificação não poderia ter sido causado por um eclipse do Sol.
Esqueceu Buchanan que
nesse período é possível a ocorrência dos eclipses da Lua que só podem ocorrer
justamente na Lua cheia. Como sugeriram os cientistas ingleses Colin J. Humpreys
e W.G.Waddington, do Departamento de Ciências dos Materiais e Metalurgia da
Universidade de Oxford, no artigo de Nature citado acima. A causa pela qual a
Lua eclipsada é vermelha como o sangue é muito conhecida. Assim quando a Lua se
encontra no interior do cone de sombra da Terra, a luz solar que nos alcança já
foi refratada pela atmosfera terrestre é avermelhada por ter atravessado uma
trajetória muito longa nas camadas gasosas da atmosfera, onde a dispersão
preferencialmente dispersa os raios azuis deixando passar os vermelhos.
Na realidade, os
eclipses estiveram sempre envoltos numa atmosfera tipicamente mística capaz de
lançar maior mistério, valorizar os acontecimentos históricos e endeusar os
governantes.
Antes de uma análise
do que pode ter ocorrido no dia da morte de Cristo, seria conveniente uma
consulta aos relatos da época.
"Desde a hora sexta
até a hora nona se difundiram trevas sob toda a Terra"..., relata Mateus em seu
Evangelho(27, 45-52). Tal idéia de um escurecimento no dia da crucificação de
Cristo está registrado no Evangelho de Marcos (15, 33-38) e Lucas (23, 44-46).
Este ultimo relata: Era então a hora sexta, e toda a Terra ficou coberta de
trevas até a hora nona. Escureceu-se também o Sol; e rasgou-se pelo meio o véu
do Templo"... Para alguns autores, esta afirmativa de que o sol teria escurecido
sugere a ocorrência de um eclipse do Sol. Os defensores da idéia do eclipse
solar citam os relatos de Joel (2, 30-31): "E darei a ver prodígios no céu e na
Terra.
Todas as passagens
dos Evangelhos permitem diversas interpretações, sem que o enigma do
escurecimento seja definitivamente solucionado. Convém, no entanto, descrever o
sistema de contagem de horas da época.
Na Palestina, o dia e
a noite era dividido, respectivamente, em 12 partes iguais. Todavia, como não se
dispunha de um meio de marcar as 12 horas do dia, adotava-se em geral a divisão
do dia em quatro parte, denominadas pela hora inicial de cada uma. Assim, prima
( das 6 às 9 horas); hora terceira ( das 9 às 12 horas); hora sexta ( das 12 às
15 horas); hora nona ( das15 às 18 horas). Do mesmo modo, a noite era dividida
em quatro partes, denominadas vigílias; a primeira começava as 18 horas; a
segunda às 21 horas; a terceira à meia-noite e a quarta às 3 horas da
madrugada.
A época citada só
ocorreu um eclipse do Sol no ano 29 do calendário juliano, trata-se do eclipse
de 24 de novembro. Talvez no futuro possa surgir as respostas a esses
acontecimentos.
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